Animitas (Chile)

Esse é o post mais antigo da nossa viagem pela América do Sul. E eu o guardei porque queria publicá-lo com carinho, mas passou tanto tempo e agora eu quero falar sobre o que me moveu a fotografá-las.

As animitas são as homenagens que os chilenos crentes fazem para pessoas que faleceram em espaço público. Há animitas na beira das estradas e dentro das cidades. Famílias homenageam seus entes queridos no local de sua morte, colegas de trabalhos homenageam falecidos em acidentes nas minas. Com o tempo, algumas dessas animitas viram verdadeiros lugares de adoração, mausoléus, crescendo em tamanho, em objetos ofertados, com objetos de valor afetivo de quem passa e o oferece e também em importância para quem crê.

Animita é o diminutivo de alma, em espanhol, anima. A cultura dita que a pessoa que morreu de maneira trágica, fica com a alma presa na Terra, mas tem uma conexão com o divino, razão pela qual fazer pedidos, deixar presentes e agradecimentos faz todo sentido. Continue reading “Animitas (Chile)”

A Região dos Yungas na Bolívia – Parte 2

Nossa segunda visita a região dos Yungas foi feita num carro alugado. Alugar um carro na Bolívia é caríssimo e o preço triplica se houver intenção de ir com o carro para outras regiões. Nosso plano inicial era usar o carro para buscar uma amiga no aeroporto de Santa Cruz, mas desistimos quando vimos o preço, daria para pagar meses de aluguel de um apartamento num bairro central em La Paz. Andar de carro na Bolívia é uma aventura que começa na hora de assinar o contrato com a locadora (dica: leia cada cláusula com atenção e exija que tudo que for discutido com o vendedor esteja escrito no contrato). As estradas têm péssimo estado. Os bloqueios às estradas acontecem com bastante frequência e inesperadamente. Os policiais bolivianos merecem um post só para eles. E tem, claro, a cultura de automobilística local, que era completamente estrangeira para a gente.

Não lembro quantos dias viajamos por aqui. A estrada era lenta, tortuosa e poerenta. Janelas abertas porque o calor só vencia quando o carro estava em movimento. Outros carros passavam e comíamos poeira. Muita poeira. Continue reading “A Região dos Yungas na Bolívia – Parte 2”

Santiago de Okola (Bolívia)

Titicaca e o cachorro do nosso guia

É uma pena que não escrevi antes sobre Santiago de Okola, porque tenho certeza que alguns detalhes me escapam. Mas se fosse escrever esse post 4 anos atrás, ele teria sido mais ingênuo, menos consciente.

A pequena comunidade de Santiago de Okola é extremamente pitoresca, à beira do Titicaca boliviano. Produzem seu próprio alimento, com cada família sendo responsável por uma parte da produção (batatas e outros tubérculos, quinoa e outros cereais, porcos, ovelhas, patos, eles produzem produtos têxteis também, a partir da lã das ovelhas que criam). Queria sentir a vida andina sem os inevitáveis filtros para turistas, queria a experiência de morar à beira do Titicaca, de entender plenamente como vivem os locais. Ambiciosamente, queria me sentir local. Talvez esse seja um dos meus maiores amadurecimentos ao longo dos anos que se seguiram à nossa experiência pela América do Sul. Esse anseio impossível por sentir como o outro se sente sem sê-lo. Sem a língua, a cultura, as experiências, a perspectiva.  Continue reading “Santiago de Okola (Bolívia)”

Maya!

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Rodrigo fazendo pele a pele (essencial para o desenvolvimento do prematuro) no dia seguinte à alta. Junho/2013. Foto: Elaine Santana

Faz um pouco mais de um ano que escrevi sobre o Dia de Los Muertos na Bolívia.

Aquele foi nosso último dia de Bolívia: viajávamos em direção ao Peru. A linda festa dos mortos. Chorei com o acolhimento de uma família, no Cemitério Geral em La Paz, um senhor me explicando o sentido de cada uma das oferendas. Estava explodindo de emoções naquela semana, a vida à flor da pele, sentindo tudo, intensamente… Naquele momento, nem imaginava que já crescia dentro de mim a Maya. Ela me pedia descanso, repouso, introspecção, mas eu tinha planos profissionais: algumas sessões de fotos de um trabalho que fiz para uma ONG Boliviana.

Nunca foi minha intenção ficar tanto tempo sem escrever aqui no blog, mas nossa vida foi mudando rapidamente, e estávamos sempre tão ocupados que acabei não contando da gravidez. Tantas histórias, tantos textos por escrever, as fotos já editadas, só esperando publicação, e eu querendo seguir a ordem cronológica da viagem, contar da Bolívia e depois contar da chegada ao Peru, que foi quando comecei a desconfiar da gravidez (num barco, no lago Titicaca, voltando para Puno), do momento que a certeza começou a se instalar (no trem, acompanhada de um amigo nova iorquino, indo em direção a Águas Calientes). Queria dividir os momentos belos, como o que tive no ônibus em direção a Machu Picchu: me emocionei pensando no mundão que apresentaria para o serzinho que crescia dentro de mim. Continue reading “Maya!”

Nossa Primeira Ida a Região dos Yungas

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Nossa primeira visita a região dos Yungas aconteceu com R, um inventor estadunidense que vive faz mais de 30 anos na Bolívia. Para mim, a viagem foi horrível. Rodrigo não achou que foi tão péssimo e até chegou a se divertir.

Com um prazo de pauta para entregar no fim daquele dia, topei a ida com a certeza de que faríamos como havia nos dito R: chegando na cidade de Coroico, que fica a duas horas de La Paz, encontraríamos um hotel onde eu pudesse sentar e escrever.

Eu também havia me comprometido a produzir um pequeno vídeo para promover a nova invenção de R, um motor movido a água, e esta era a razão principal pela qual eu estava embarcando nesta viagem.

Quando nos encontramos pela manhã, na porta do prédio onde estávamos morando, R me disse que tinha “resolvido deixar o motor em casa,  mas iria procurar um rio adequado para testá-lo e produzir o vídeo no futuro”.

Tive um momento de dúvida: Será que eu devo ir? Acabei resolvendo que sim, já que R fazia aniversário naquela semana e também queria comemorar conosco nesta viagem.

De táxi fomos até El Alto, a cidade acima de La Paz, de onde sai uma parte do transporte para diferentes lugares na Bolívia, e de lá pegamos uma van em direção a Coroico. O motorista, um ‘kamikaze‘ que fazia as curvas da estrada perigosíssima como se estivesse numa competição automobilística, assustou os passageiros. Mas a bem da verdade, eu tinha trabalhado até 5 da manhã e as curvas, e a velocidade com que eram feitas, me deram sono e dormi a maior parte do caminho. Só em Coroico fui informada que alguém pediu encarecidamente para o motorista diminuir a velocidade ‘antes que nos matasse a todos’.

 

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Chegando na pequena cidade, fomos tomar um café da manhã. O combinado seria dali rumar para um hotel que R havia descrito como idílico e maravilhoso. Em poucos minutos tínhamos feito nossos pedidos e ele levantou-se para atender o celular longe de nosso pequeno grupo (eu, Rodrigo e Dana, uma voluntária que havia acabado de chegar à Bolívia para trabalhar com crianças surdas numa escola em La Paz). Passado algum tempo e muitas ligações, ficou claro que, de La Paz, era a esposa de R quem buscava uma acomodação para nós 4, e que não havia nada muito certo.

Depois de inúteis tentativas da esposa para nos hospedar naquela noite (alguns lugares estavam lotados, outros eram caros demais), R sugeriu um hotel perto do rio Coroico, ao qual chegaríamos de táxi. Vinte minutos mais tarde, estavámos na porta de uma chácara onde funcionava apenas um restaurante e uma piscina suja para quem quisesse ‘passar o dia’. Nenhuma hospedagem.

A próxima sugestão foi irmos até uma ‘cidadezinha próxima, onde o clima é menos frio, mas a cultura ainda é andina’. Aparentemente, nos arredores da cidade produzia-se muitas das frutas, verduras e legumes que abastecem La Paz e, segundo R, seria bem interessante para eu fotografar. E o rio, ah o rio dali seria maravilhoso para testar o motor. Neste momento, cogitei voltar para La Paz, mas movida ainda por um espírito de aventura e a vaga ideia de que o dia terminaria bem, afinal de contas, concordei.

 

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Bar Secreto e Valle de la Luna – La Paz

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Primeiro fomos num show beneficente de uma banda cujos membros fazem trabalho social envolvendo crianças moradoras de rua  em El Alto, a cidade acima de La Paz, a capital aymara. De lá, Dimelza, uma paceña que faz seu mestrado em direito  na Espanha, nos levou num bar chamado Secreto. O bar ficava numa casa sem placas ou sinalizações. Decorado com um milhão de badulaques, à meia luz, foi talvez o lugar mais ‘cool’ que fomos enquanto estavámos morando em La Paz. Sob denúncia, o bar foi fechado pouco tempo depois.

Naquela noite, conversamos sobre a experiência de sermos expatriados e a relação com nossas cidades natais quando retornamos a elas depois de um tempo perambulando por outros lugares, como mudamos nós e a cidade passa a não caber mais nas nossas expectativas, novas perspectivas, novos olhares. Para Dimelza, voltar para La Paz era dar de cara com coisas que ela considera ridículas e outras que sente saudades. Talvez bem parecida com a minha relação com São Paulo, de amor e ódio, de reconhecimento e rejeição.

 

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Na tarde seguinte, fomos (eu e o Rodrigo) de  táxi até a Zona Sur, a região novo-rico de La Paz e Dimelza nos levou em seu velho carro para o mais turístico dos passeios de quem visita a cidade: o Valle de la Luna. Embora a paisagem esteja presente em outras partes da cidade, aqui as montanhas de argila, em pleno processo de erosão e muitas delas em decomposição, podem ser vistas de perto.

Depois Dimelza nos levou para conhecer a região do vale da Zona Sur.  Carly, que nos acompanhava também nesta excursão, comentava sobre os químicos presentes na água de La Paz, e o quanto que as frutas, verduras e legumes, que são regadas com esta água, também são contaminadas. 

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Artesania Sorata

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A Artesania Sorata foi criada faz 28 anos. Inicialmente começou a funcionar na cidade de Sorata, na Bolívia, mas 10 anos atrás, mudou-se de mala e cuia para La Paz.

A primeira vez que li sobre ela foi na internet, quando fazia pesquisas sobre a Bolívia. Depois, uma amiga fotógrafa me colocou em contato com a Diane Bellomy, que administra o empreendimento. Comércio justo, empoderamento de mulheres locais, uso de técnicas amigáveis com o meio ambiente: fiquei muito feliz quando me contrataram para fazer a campanha deles, que inclui, além de fotos de moda, um trabalho documental que ainda não finalizei.

 

PhotoShoot Oct/2012

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Foi assim que viramos nômades…

Viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é que é o viver mesmo… Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa… O mais difí­cil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.

Guimarães Rosa

“Pegar estrada” é sujeitar-se ao desconhecido, não só o desconhecido do mundo que se abre, mas também ao desconhecido dentro de si. Abandonar as certezas não é sempre uma decisão fácil. Mesmo tendo um comprometimento grande de encontrar respostas interessantes para as várias questões da minha vida, muitas vezes, diante da necessidade do novo, sou a primeira a relutar, a me recusar a aceitar as mudanças que eu mesma quis.

Quando começamos esta jornada, em maio de 2012, não sabíamos onde íamos parar, nem quando. Nossa plano inicial era ficar seis meses viajando, plano que rapidamente se mostrou inviável: nenhum de nós dois tem fôlego para ver tudo o que queríamos ver, em tão pouco tempo. Logo em seguida, um ano na estrada parecia tempo de menos e tempo de mais. Explico: de menos para ver tudo, conhecer as pessoas, nos aprofundar. De mais, para o Rodrigo ficar longe do mercado de trabalho (ele já tinha se desvinculado da última empresa em que trabalhou uns bons meses antes da viagem, quando já sabíamos que íamos viajar).

A verdade é que queríamos ser menos turistas e mais moradores. Continue reading “Foi assim que viramos nômades…”

Dia de los Muertos – Uma Incursão Antropológica

Na Bolívia, assim como no Brasil, a celebração acontece dia 2 de Novembro. Também chamado de Dia de los Difuntos e para os católicos, Dia de Todos los Santos.

Na semana que antecedeu o feriado, eu fazia uma série de vídeos e entrevistas em La Paz para um documentário que envolve a manufatura de roupas de lã de alpaca e ovelha por mulheres andinas de origem indígena. Tive dificuldades para entrevistar as mulheres porque, além da tradicional timidez andina, elas estavam ocupadas fazendo os pães que seriam oferecidos para os mortos. Na verdade, eu passei a semana inteira ouvindo que as mulheres não podiam me encontrar “porque estavam fazendo pão”. Só no fim da semana que fui entender o ritual. Continue reading “Dia de los Muertos – Uma Incursão Antropológica”

Dia de los Muertos

Hoje é nosso último dia aqui na Bolívia, nosso último dia de visto válido e temos que sair. Nosso plano é voltar em janeiro e passar mais três meses por aqui.

Hoje também é o dia de los muertos. Fui com um grupo de amigos daqui ao cemitério geral de La Paz. O dia dos mortos é o dia de celebrar os mortos que se foram. Não parece em nada um dia triste e além de mim, não vi mais ninguém chorando. Música, oferendas, comida, bebidas e flores, muitas, muitas flores.

Um senhor, me vendo fotografar as oferendas de sua família, que estavam no chão (frutas, biscoitos, pipocas, e t’antawawa – pão feito em forma de pessoa) começou a me explicar as tradições, as oferendas. Depois nos deu parte das oferendas. Queria Continue reading “Dia de los Muertos”

Oi. Voltei.

 

 

Carol, cachorro e Vicente olhando o lago Titicaca do alto do Dragão Dormido em Santiago de Okola

 

Sumi. Eu sei. E tem gente mandando email, mandando mensagem por chat: Quando você vai atualizar o blog??? Não está mais do que na hora de fazer outro post, não???

Bom, explico o sumiço: Ainda em La Paz, fizemos algumas pequenas viagens, ficando sem acesso a internet em todas elas. Depois, saímos de La Paz e fomos para Santa Cruz de la Sierra. A família do Rodrigo foi nos encontrar lá. Chegaram em três dias diferentes, partiram em três dias diferentes. Viajamos com eles. Novamente ficamos sem internet por vários dias. E mesmo quando tínhamos, a conexão era péssima. Um dia, levei 3 1/2 horas para conseguir escrever e anexar 5 arquivos para um editor.

Agora voltei! E vou atualizar o blog. Ainda tem dois posts do Chile. E a Bolívia, ah, a Bolívia. :)  Muitas histórias para contar dos lugares que visitamos, dos trabalhos, das visitas que recebemos!

Aguardem!

Putre, Parque Nacional Lauca e Salar Surire

 

Comecei a escrever este post quando ainda estava em Putre, o pequeno e charmoso vilarejo onde nos hospedamos para conhecer a região que faz fronteira com o Peru e a Bolívia, no extremo norte do Chile. Da janela do quarto do hotel, me distraí do que escrevia, assistindo 3 meninas pastoreando ovelhas. A mais nova, de cabelos curtos e camiseta rosa choque, devia ter uns 5 anos. A mais velha não parecia ter mais do que 12, tinha os cabelos compridos presos num rabo de cavalo. Entraram no terreno e, enquanto as ovelhas pastavam, elas corriam entre as arbustos. A paisagem era bucólica: esqueci-me também da dor de cabeça e falta de ar causadas pela altitude de mais de 3500 metros e, por quase uma hora, fiquei assistindo às meninas trabalhando e brincando.

A maioria das pessoas com quem converso jamais ouviu falar em Putre. Eu mesma, só soube da existência do povoado quando estava em Santiago, em Junho. Nossa anfitriã, com um mapa do Chile aberto sobre a mesa de centro da sala, informava que a região era linda, imperdível e quase massivamente ignorada pelos turistas que, rumo ao Peru ou a Bolívia, chegam a Arica, a última cidade no litoral chileno antes de cruzar a fronteira. Continue reading “Putre, Parque Nacional Lauca e Salar Surire”

Potluck em La Paz

 

Fazer amigos numa cidade nova, num país estrangeiro, é sempre uma loteria. Aqui em La Paz, sinto que tivemos sorte, conhecendo gente que abriu as portas das suas casas depois de termos trocado poucas palavras, baseando-se mais na intuição do que em fatos. Se descobri tanto sobre a cidade, sobre a Bolívia, nestes quase dois meses vivendo aqui, devo isto a estas pessoas maravilhosas que nos acolheram.

Algumas semanas atrás, fomos convidados para um potluck com direito a vinho, cerveja, chá, balinhas de gengibre, celebração de aniversário, novas amizades e conversas até alta madrugada. Tudo isto a 3600 metros de altitude, na Zona Sur, a região nobre aqui da cidade.

Potluck é um encontro, uma festa Continue reading “Potluck em La Paz”

Paulo Coelho, livros piratas e o preconceito

Estamos em La Paz, na Bolívia, onde alugamos um pequeno apartamento nos fundos de um restaurante vegetariano. Dividimos o espaço com um velhinho estadunidense que “desertou” dos Estados Unidos e agora mora (ilegalmente) na Bolívia.

Ainda tenho alguns posts para publicar sobre nossa passagem pelo Chile, mas quis contar esta história da estrada, saída do forno, fresquinha mesmo.

Chegamos em La Paz  no começo de agosto e através de uma amiga querida e fotógrafa incrível, Toni, fizemos amizade com um casal que trabalha com mulheres artesãs e comércio justo. Por eles, acabamos conhecendo outras pessoas, entre elas, a Carly, que escreve um blog super interessante chamado Making Sense of Things (Fazendo Sentido das Coisas).

Ontem fomos convidados para jantar na casa dela. E lá fomos nós para a Zona Sur, a parte baixa de La Paz, bem mais rica do que a parte central onde estamos morando.

Éramos 5 pessoas em volta da mesa, dividindo os pratos deliciosos preparados pela Carly. Além de nós 3 (eu, Rodrigo e Carly), a Dana, que está morando no mesmo prédio que a gente e que trabalha com crianças com deficiência auditiva e acabou de chegar em La Paz para durante um ano letivo dar aulas como voluntária numa escola local, e a Dimelza, uma boliviana que conhecemos através da Carly e que já nos deu muitos ‘insights‘ sobre a cidade, a cultura e povo boliviano. A Dimelza mora faz 5 anos na Espanha, e está terminando um mestrado em Direito.

Em algum momento da noite, estávamos falando de livros e que considerando o custo de vida boliviano e o salário mínimo (que é beeeem mínimo), achamos o preço dos livros elevadíssimo aqui na Bolívia. Concluimos, então, que comprar livros deve ser algo bem inacessível para a população local.

O preço médio dos livros varia facilmente entre 150 e 200 bolivianos (50 a 60 reais). Até em livrarias de usados, os livros são caros (entre 80 e 150, mas chegamos a ver por 200 bolivianos). Eu e o Rodrigo achamos que os livros no Brasil também são caros, mas aqui, são mais ainda (Acabei de pedir para uma amiga trazer alguns livros para mim de São Paulo, e na média, estou pagando R$35,00 por livro).

Dimelza nos contou, então, que tem muita pirataria de livro na Bolívia: tiram uma fotocópia do livro inteiro e vendem-na por 1 a 10 bolivianos (30 centavos a 3 reais).

E aí vem a história que eu quero contar:

A Dimelza tem uma tia que mora em Londres. Numa viagem de visita à Bolívia, a tia encontrou para vender numa barraquinha a coleção inteira traduzida para o espanhol do Paulo Coelho. Por 5 bolivianos. Isto é, um calhamaço de fotocópias dos livros. Comprou o calhamaço e levou na mala para Londres. Continue reading “Paulo Coelho, livros piratas e o preconceito”

Oficina Santa Laura ou Um Pouquinho de História Não Faz Mal a Ninguém

Vende el “huasito” sus vacas,
sus caballos ensillados
porque dicen que en el Norte
ganan plata a puñados.
P’al Norte me voy, me voy
p’al Norte calichero
donde seré un caballero,
de bastón y de “tongoy”.
Canción popular en la época de los enganches*.

A Oficina Salitreira Santa Laura fica a 47 quilômetros de Iquique na região de Tarapacá, no norte do Chile. Oficina salitreira é o nome que recebiam os diferentes centros de exploração que processavam salitre na região que hoje pertence ao Chile.

Nesta região, o sol brilha sempre, incansável. É difícil mesmo encontrar uma sombra durante o dia. Mas assim que o sol se põe, o frio se instala e só vai embora quando o sol aparece novamente no dia seguinte.

Para visitar a oficina, dá para contratar um passeio turístico, mas fomos até lá por conta própria, no carro caindo aos pedaços que tínhamos alugado por uns dias. Avistamos a oficina de longe cercada pelo deserto incandescente. Continue reading “Oficina Santa Laura ou Um Pouquinho de História Não Faz Mal a Ninguém”