Minas Gerais!

Interrompo a narrativa de nossa passagem pela América do Sul para escrever sobre Minas Gerais, uma viagem que aconteceu no final de dezembro de 2011.

Quando voltamos de lá, guardei as fotos e por fim, esqueci delas. Hospedados, então, num pequeno hotel no meio do mato no mês passado, numa madrugada de insônia, aqui na Bolívia, resolvi editá-las. Olhar estas fotos – que agora compartilho com vocês – me fez pensar nestes dias de estrada, quando ainda tínhamos casa.

Para Minas, não tínhamos um roteiro totalmente definido, mas em nosso plano original, tentaríamos conhecer as diversas regiões deste estado que é o quarto maior em extensão territorial e o segundo mais populoso no Brasil. Com o carro cheio de amenidades, comida, fogareiro, barraca, roupas saímos de São Paulo em direção a Rodovia Fernão Dias e nosso primeiro destino: um motel de beira de estrada entre Três Corações e São Tomé das Letras. 

Naquele mês desastrosamente chuvoso para Minas nada saiu exatamente como esperado. Mais de 150 cidades entraram em estado de calamidade.

Saindo da pequena cidade de Luminárias, a caminho de Santa Rita do Jacutinga, diante da ameaça de atolamento, tivemos que voltar e procurar estrada alternativa; alguns dias mais tarde, a BR-040 foi interditada quando estávamos a caminho de Belo Horizonte, e em vão, por horas, procuramos hospedagem, parando, por fim, o carro perto de uma praça, numa cidade chamada Queluzito, e dormimos ali mesmo; naquele mesmo dia, tínhamos saído de Tiradentes, que alagou alguns dias mais tarde. Passamos a virada do ano debaixo de um temporal, no Parque Nacional de Ibitipoca.

No nosso plano original, iríamos para Ouro Preto, Mariana e outras cidades históricas que não conheço, mas infelizmente, todas estavam sofrendo com as chuvas, muita gente tinha morrido ou estava desabrigada. Em determinado momento, tentamos contato com alguns amigos mineiros, oferecendo ajuda, mas diante da impossibilidade de sequer chegar a tais lugares, resolvemos seguir para o Vale do Jequitinhonha, menos atingido pelas chuvas.

Apesar de não termos conseguido fazer tudo que queríamos, esta viagem foi importantíssima e inesquecível.

Não quero só o saber dos livros, apesar de adorá-los: viajo para conhecer. Quero o saber profundo de ter visto com meus próprios olhos e experimentado com a alma: viajo para me transformar. Foi em Minas que decidimos “bater o martelo” da viagem pela América do Sul. Foi por causa desta viagem que decidimos fazer esta outra a pé, sem nosso carro. Foi lá também que a ideia de comprar um pedaço de terra, plantar orgânicos, consumir comida produzida por nós, ganhou forma, rosto, corpo e vida. E passou a dançar alegre dentro dos meus devaneios.

Minas Gerais me fez pensar mais profundamente sobre sustentabilidade. Depois de passar dias e dias dirigindo por estradas de terra, ora vendo grandes áreas desmatadas (queimadas) para pastagem de gado produtor de leite, ora vendo áreas “reflorestadas” com eucalipto; acres e acres de plantações de milho transgênico; montanhas parcialmente destruídas pela mineiração, o termo insustentabilidade entrou definitivamente na minha vida. Não é que eu nunca tenha pensado no assunto. Mas a combinação do que víamos por onde passamos e dos desastres causados pelas chuvas (pelo desmatamento, pela erosão, pela falta de planejamento das cidades, pelo lixo acumulado) mexeu comigo de maneira irreversível.

Quando voltei desta viagem, sabia que queria revolucionar a minha vida para sempre.

Claro que a viagem não foi só de desastres. Passamos por lugares maravilhosos, cachoeiras, rios, fomos recebidos por pessoas queridas e generosas, dançamos na chuva ao som de James Brown, conhecemos gente maravilhosa, que buscou e encontrou maneiras alternativas de viver, pessoas que não perderam sua conexão com a terra, que tiram seu sustento dela ou que mesmo em São Paulo, e com pouco dinheiro, encontraram formas de viver de um jeito mais sustentável, conectado, harmônico, conhecemos alguns projetos interessantes e complexos, que realmente transformaram a vida de comunidades inteiras.

Na pequena cidade de Araçuaí, visitamos o sítio do Rainer, um alemão que produz vegetais orgânicos. Cria galinhas, patos e cabras e tem algumas cabeças de gado bovino. Assim ele sustenta sua família. O excedente, ele vende na feira da cidade, aos domingos. Rainer passou uma tarde mostrando como produz, com as folhas de uma árvore chamada nim, um tipo de repelente contra os insetos que atacam suas plantações. Gentilmente nos mostrou cada uma de suas plantas. Terminamos a visita degustando da cachaça de alambique e uns dois ou três tipos diferentes de licor de frutas que ele mesmo produz.

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